Novas Experiências em Sala de Aula, por Matheus Albergaria de Magalhães

Atualmente, um desafio comum para professores universitários corresponde a encontrar maneiras de motivar seus alunos. Em uma época onde ocorre ampla disseminação de informações, assim como a presença de distintos estímulos sensoriais, é cada vez mais difícil tornar a sala de aula um lugar interessante para a maioria dos estudantes, especialmente no caso de cursos de Ciências Sociais Aplicadas, como Administração, Contabilidade, Economia e Relações Internacionais, por exemplo. Ainda assim, é possível pensar em novas maneiras de transformar as aulas em experiências dinâmicas, participativas e, até mesmo, divertidas.

Uma primeira maneira de explorar novos conceitos em sala de aula corresponde à realização de experimentos. No caso, exercícios nestes moldes podem ter um duplo objetivo: primeiro, facilitar a exposição de determinados conceitos econômicos; segundo, identificar regularidades e anomalias relacionadas ao comportamento humano em um ambiente controlado.

Pessoalmente, venho observando uma considerável melhora na transmissão de conhecimentos entre alunos e professores quando da realização de experimentos em sala de aula. Ao longo do primeiro semestre do ano, tive a oportunidade de realizar diversos experimentos com alunos do curso de graduação em Economia. Especificamente, organizei experimentos voltados para distintos temas econômicos, como bens públicos, externalidades, eficiência, equidade e recursos comuns. Em cada oportunidade de interação, notei que os alunos passavam a exercer um papel mais ativo durante o processo de aprendizado. Notei que os experimentos realizados em sala de aula exerceram importantes efeitos em termos de motivação e participação sobre os alunos. De fato, parece haver uma grande diferença entre alunos observarem a explicação de um conceito no quadro e vivenciarem este conceito na prática.

Por exemplo, uma dinâmica em sala de aula envolvendo grupos representando distintas empresas demonstrava que, mesmo quando cada empresa buscava maximizar os respectivos lucros, externalidades (como poluição, por exemplo) poderiam surgir. Uma experiência nestes moldes pode fornecer aos alunos uma primeira impressão acerca das possíveis consequências de atos individuais sobre o meio ambiente.

Em outra dinâmica, relacionada ao financiamento de bens públicos (como o metrô), os alunos perceberam que, mesmo quando todos concordavam ser necessário contribuir para a provisão do bem, ocorriam consideráveis dificuldades relacionadas à obtenção de contribuições individuais. Ou seja, nem sempre é fácil obter um desejado grau de coesão em um grupo social, mesmo quando parece existir algum consenso acerca da necessidade de um bem público.

Adicionalmente, experimentos podem permitir a um professor conhecer a mais a respeito das turmas com as quais trabalha. No caso de uma das turmas de graduação onde ministro aulas, foi possível obter informações demográficas e socioeconômicas a partir de um simples questionário onde os participantes deveriam fornecer informações específicas para participar de um experimento, embora não fossem obrigados a revelar os respectivos nomes.

A realização de experimentos pode servir, inclusive, para a construção de bases de dados para pesquisas relacionadas ao comportamento humano, constituindo uma nova e interessante possibilidade para profissionais que, muitas vezes, dispõem de pouco tempo e recursos para realizar pesquisas aplicadas fora do ambiente de sala de aula. Para maiores informações relacionadas às possibilidades advindas da utilização de experimentos dentro e fora de salas de aula, pode valer à pena conferir esta palestra de minha autoria, relacionada ao tema.

Finalmente, fica uma ressalva: apesar de representarem uma inovação didática, não acredito que os experimentos devam ser vistos como substitutos a aulas cobrindo conteúdos específicos. Na verdade, percebo que experimentos podem vir a desempenhar uma função complementar a aulas em moldes tradicionais. Neste sentido, quanto mais dispostos a incorporar novas técnicas e possibilidades de ensino estiverem os professores de disciplinas de cursos de Ciências Sociais Aplicadas, mais dinâmicas, interativas e divertidas poderão ser as aulas nas universidades do futuro.

*Matheus Albergaria de Magalhães é economista e professor universitário.
E-mail: matheus.albergaria.magalhaes@gmail.com
Website: https://sites.google.com/site/malbergariademagalhaes

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