A Economia das Redes Sociais, por Matheus Albergaria de Magalhães

O filme “A Rede Social”, lançado no Brasil no segundo semestre de 2010, conta a história dos bastidores da criação da maior rede social virtual da atualidade: o Facebook. Mais do que isso, o drama em questão foca na acirrada disputa entre os criadores da rede pelos lucros decorrentes do sucesso internacional desse empreendimento. O motivo da disputa deve-se à enorme popularidade do Facebook: atualmente,a rede possui mais de 1 bilhão de usuários no mundo todo. Tamanho sucesso retrata  em última instância, o fenômeno contagiante das redes sociais na Internet.

Em uma pesquisa em coautoria,procurei analisar o funcionamento de uma rede social específica e bem conhecida dos jovens brasileiros, o Orkut. Para tanto, utilizei uma base de dados composta de 450 perfis de usuários dessa rede, abrangendo diversos estados brasileiros.

A Economia das Redes Sociais

Os resultados obtidos a partir deste esforço de pesquisa ajudaram a confirmar algumas impressões básicas que se tem dos usuários de redes sociais. Por exemplo, a maioria dos usuários na amostra analisada era jovem (tinha entre 18 e 30 anos),possuía naturalidade brasileira, com o Brasil ocupando o primeiro lugar no ranking de nacionalidades da rede no ano de 2005 (ano de coleta dos dados). Além disso, a maioria dos perfis contidos na base de dados correspondia a pessoas solteiras, que diziam não fumar, mas admitiam beber socialmente, ao mesmo tempo em que justificavam a entrada no Orkut a partir do objetivo de ampliação de seu círculo social.

Um resultado inesperado à primeira vista foi o fato de que os usuários analisados pareciam se preocupar mais com os números de contatos que possuíam em seus perfis do que o número de comunidades aos quais pertenciam. Em particular, um dos resultados enfatizados na pesquisa demonstrou que parecia não existir qualquer relação entre aqueles usuários que possuíam o maior número de contato sem seus perfis e aqueles que pertenciam ao maior número de comunidades da rede.

Por exemplo, foi possível encontrar pessoas que estavam em mais de 400 comunidades, mas ainda assim possuíam um número dez vezes menor de contatos (40 ou menos), conforme foi o caso de um dos perfis analisados ao longo da pesquisa. Este resultado demonstra que essa pessoa valorizava a participação em fóruns de discussão, ao mesmo tempo em que provavelmente estava inserida em um restrito círculo social. Por outro lado, havia usuários que possuíam mais de 500 contatos, mas que, ainda assim, estavam associados a menos de 10 comunidades. Contrariamente ao caso anterior, este usuário valorizava mais seu círculo social do que a participação em fóruns de discussão.

À primeira vista, resultados nestes moldes podem ser vistos como ressaltando a importância dada pelo próprio Orkut à formação de laços de amizade entre seus usuários, uma vez que o website desta rede exibia a frase “Who do you know?” (“Quem você conhece?”) em sua página de abertura, quando do início de suas atividades, ainda no ano de 2004.

De fato, estes resultados são interessantes não apenas por seu conteúdo, mas sim pelas possibilidades deles advindas. Por exemplo, a lógica de funcionamento inerente às redes sociais pode nos auxiliar na formulação de respostas a importantes problemas socioeconômicos, cuja abrangência vai do ensino fundamental até as potencialidades de cada município de um estado, por exemplo.

Para os economistas e cientistas sociais aplicados, as possibilidades relacionadas às redes sociais são simplesmente formidáveis: podemos pensar desde a análise de redes propriamente ditas (Christakis e Fowler 2011), passando pela formação de nichos de mercado (Anderson 2006), interações individuai sem websites de relacionamento (Hitsch, Hortaçsu e Ariely 2010), tendências de discriminação racial (Marmaros e Sacerdote 2004), chegando até a formação de grupos com gostos e características semelhantes (Currarini, Jackson e Pin 2008). Em última instância, o estudo das redes pode vir a fornecer novas e interessantes respostas a alguns dos mais importantes problemas socioeconômicos da atualidade.

Matheus Albergaria de Magalhães é Economista e Professor Universitário.

E-mail: matheus.albergaria.magalhaes@gmail.com.

Website: https://sites.google.com/site/malbergariademagalhaes

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